sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Crónicas | 2

Nas voltas e reviravoltas da vida, há dias em que temos a sensação de que já passámos, muitas vezes, naquele lugar. A mente engana-nos e o coração fica em riste accionando todos os mecanismos de auto-defesa. Mas é tudo uma ilusão. Porque nunca passamos pelo mesmo lugar duas vezes. Porque os lugares são mutantes. Evoluem. Transformam-se. Acrescentam-se ou diminuem-se. Vestem-se com novas modas e novas cores. Não são imunes à passagem do tempo nem às marcas das vidas.

Assim como cada um de nós. Os nossos olhos crescem [ou, melhor dizendo, cresce a nossa forma de olhar, de ver as coisas e o mundo]. As nossas palavras aumentam o seu alcance [para fora e para dentro]. As mãos anseiam experimentar novas cores e novas texturas. O paladar fica mais apurado e sedento de novos sabores. Os ouvidos diluem-se noutras melodias, noutras vozes e noutros cantos. E o coração, ah! esse é uma casa em construção, sem andaimes à volta, uma obra sem fim à vista, apenas etapas, degraus construídos passo-a-passo, pózinhos mágicos de hora-a-hora e arco-íris que vão e vêm. 

Nas voltas e reviravoltas da vida, nunca voltamos ao ponto de partida nem aos mesmos lugares. Quando muito, sentimos a força das nossas raízes num solo que já não é o mesmo. Quando muito, vislumbramos, como num velho álbum de família, pedaços daquilo que, um dia, fomos. Mas voltar ao mesmo, isso não. A parte boa é que podemos sempre recomeçar a partir do ponto em que estamos. E essa certeza é pedra basilar daquilo a que chamam "esperança no que há-de vir".


[Bom fim-de-semana]

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