terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Equilíbrio [ou a falta dele]


e·qui·lí·bri·o 

1. Estado de um corpo que se mantémainda que solicitado ou impelido por forças opostas.
2. Igualdade das forças de dois corpos que obram um contra o outro.
3. Igualdade.
4. Boa inteligênciaharmonia (dentro de um partidoentre partidos diferentesentre naçõesetc.)


Hoje em dia, muito se fala sobre equilíbrio, sobre vivermos em equilíbrio, estarmos em equilíbrio, sermos equilíbrio. E que bom que assim é. O equilíbrio torna as nossas vidas muito mais serenas, mais fáceis de levar adiante, com outra leveza. No entanto, aquilo de que me tenho apercebido é que o tão almejado equilíbrio nem sempre é traduzido da melhor forma. Passo a explicar.

Equilíbrio pressupõe uma igualdade [ou semelhança] entre duas forças ou dois estados. É um meio termo. Tal e qual como quando vemos o funambulista/equilibrista sobre a corda: ora pende para um lado, ora pende para o outro, às vezes até cai, mas logo recomeça, mantendo-se [ou tentando manter-se] de pé e com o corpo o mais estável possível. E este exemplo é válido para as mais diversas situações da nossa vida. Contudo, o que muito boa gente tem apregoado como equilíbrio é, precisamente o contrário de equilíbrio. Acredito que a boa vontade está lá, que as ideias e os ideais são os melhores. Mas a forma como estão a passar isso é que talvez não seja a mais correcta.

De repente, parece que tudo aquilo que tu fazes está errado e "desequilibrado". De repente, tens de andar sempre feliz e contente, sempre com pensamento mais do que positivo, a comida foi dividia em comida boa e comida má [comida má, a sério?], tens de praticar Yoga e meditar cinco vezes por dia, se tomas a pílula não consegues conectar-te com a verdadeira mulher que há em ti e ai de ti se calhas de acordar e não gostares do que vês no espelho! Estou a ironizar, mas não deixa de ser verdade. Porque começou a apregoar-se esta ideia de que só és feliz se estiveres de um só lado da balança, de que este é o "equilíbrio".

Mas o equilíbrio é precisamente estar entre os dois mundos. Equilíbrio é teres dias de felicidade imensa e outros em que te sentes triste sem motivo. É comeres refeições saudáveis e refeições menos saudáveis de vez em quando, respeitando a comida e os alimentos e não lhes chamar "lixo". É escolheres uma modalidade desportiva que te faça sentido e não uma que esteja na moda. É nuns dias apetecer-te meditar e noutros não sentires essa vontade. É fazeres as tuas próprias escolhas relativamente ao teu corpo e à tua saúde, de forma informada, sem seres julgada ou discriminada por isso. É teres dias em que te sentes a última bolacha do pacote e outros em que te sentes na sarjeta e nem suportas ver a tua cara com olheiras. Isto é equilíbrio! Termos dias bons e dias menos bons.

Deparo-me com muitas pessoas que se sentem frustradas precisamente porque têm a ideia do falso equilíbrio. Porque vêem vidas "perfeitas" nos instagrams desta vida e sentem que não conseguem atingir esse estado de felicidade suprema e de perfeito equilíbrio. Quando ser feliz e viver em equilíbrio é, precisamente, balançar os dias, uns mais coloridos, outros mais cinzentos, tal e qual o tempo que tem quatro estações e tantas nuances dentro de cada uma delas. Viver em equilíbrio é, acima de tudo, vivermos em coerência com a nossa verdade, com os nossos valores e com aquilo que nos faz realmente sentido.

1 comentário:

  1. Não podia concordar mais, as pessoas deixaram de ser autênticas para passarem a ser cópias de A ou de B.

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