No ano de 1857, neste mesmo dia, 130 mulheres foram brutalmente assassinadas quando faziam greve e se manifestavam contra a precariedade laboral em que viviam (baixos salários, carga horária absurda, condições de trabalho inexistentes).
Em Portugal, neste ano de 2019, já foram assassinadas 12 mulheres e uma criança, o que dá uma média de uma mulher morta a cada cinco dias. Um terço das mulheres que morrem às mãos dos agressores tinha já apresentado queixa. Alguns destes processos foram arquivados pelo ministério público. Um certo e determinado juiz (assim como tantos outros) compactua diariamente com este flagelo. E o nosso Estado continua impávido e sereno, limitando-se a instaurar um dia de luto e meia dúzia de medidas teóricas sem grande relevância, como se isso fosse resolver o problema.
Hoje assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Não é um dia para comemorar, nem para organizar jantares ou festas. É um dia de grande seriedade, que serve para reflectirmos sobre a condição feminina nos dias de hoje e para levantar a voz contra a desigualdade que ainda prevalece. É um dia para que nos manifestemos contra a violência, o abuso, o assédio, a desigualdade salarial, a discriminação baseada no género (que ainda existe, posso garantir).
Perguntam-me, não raras vezes, se ainda faz sentido o feminismo. A minha resposta é sempre a mesma: nunca o feminismo fez tanto sentido. E o feminismo não é só uma luta das mulheres, é a luta de toda uma sociedade. Porque feminismo não é uma luta pela supremacia feminina, é uma luta pela igualdade, por uma sociedade mais justa e igual para todos, independentemente de se ser mulher ou homem. Porque sim, há homens feministas (o meu pai, o meu namorado, os meus amigos são feministas). Porque sim, o feminismo é uma das bases para que a sociedade tome consciência das desigualdades que ainda existem, o que não deixa de ser irrisório num país e num mundo que se diz tão desenvolvido.
Não quero continuar a viver num país e num mundo onde ser mulher ainda é um desafio. Não quero continuar a abrir o jornal todas as manhãs e deparar-me com mais uma mulher assassinada às mãos do agressor. Não quero continuar a saber de casos de abuso e de assédio, seja dentro ou fora do local de trabalho. Não quero continuar a deparar-me com penas vergonhosas para agressores e violadores. Não quero continuar a ouvir palavras hediondas vindas de altas patentes da justiça.
Por isso, é este a minha partilha neste dia 8 de Março, é esta a minha forma de expressão e revolta contra um sistema que tem falhado constantemente. Espero, espero muito que, um dia, este dia deixe de fazer sentido e que não seja preciso continuar a relembrar o que está mal. Até lá, é preciso e urgente continuar a debater estes temas, a espalhar a palavra, a educar as gerações vindouras. Naquilo que me diz respeito, cá continuarei a juntar a minha voz a todas e a todos aqueles que querem, apenas, um mundo mais justo.
Concordo contigo, mas infelizmente ainda existem muitas pessoas, muitas deles mulheres, que têm este dia como um dia só de mulheres, para ir a jantares do dia da mulher e festa para cima. Ainda há muita gente que não olha para este dia com o sentido real.
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