sexta-feira, 8 de março de 2019

8 de Março

No ano de 1857, neste mesmo dia, 130 mulheres foram brutalmente assassinadas quando faziam greve e se manifestavam contra a precariedade laboral em que viviam (baixos salários, carga horária absurda, condições de trabalho inexistentes).

Em Portugal, neste ano de 2019, já foram assassinadas 12 mulheres e uma criança, o que dá uma média de uma mulher morta a cada cinco dias. Um terço das mulheres que morrem às mãos dos agressores tinha já apresentado queixa. Alguns destes processos foram arquivados pelo ministério público. Um certo e determinado juiz (assim como tantos outros) compactua diariamente com este flagelo. E o nosso Estado continua impávido e sereno, limitando-se a instaurar um dia de luto e meia dúzia de medidas teóricas sem grande relevância, como se isso fosse resolver o problema.

Hoje assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Não é um dia para comemorar, nem para organizar jantares ou festas. É um dia de grande seriedade, que serve para reflectirmos sobre a condição feminina nos dias de hoje e para levantar a voz contra a desigualdade que ainda prevalece. É um dia para que nos manifestemos contra a violência, o abuso, o assédio, a desigualdade salarial, a discriminação baseada no género (que ainda existe, posso garantir).

Perguntam-me, não raras vezes, se ainda faz sentido o feminismo. A minha resposta é sempre a mesma: nunca o feminismo fez tanto sentido. E o feminismo não é só uma luta das mulheres, é a luta de toda uma sociedade. Porque feminismo não é uma luta pela supremacia feminina, é uma luta pela igualdade, por uma sociedade mais justa  e igual para todos, independentemente de se ser mulher ou homem. Porque sim, há homens feministas (o meu pai, o meu namorado, os meus amigos são feministas). Porque sim, o feminismo é uma das bases para que a sociedade tome consciência das desigualdades que ainda existem, o que não deixa de ser irrisório num país e num mundo que se diz tão desenvolvido.

Não quero continuar a viver num país e num mundo onde ser mulher ainda é um desafio. Não quero continuar a abrir o jornal todas as manhãs e deparar-me com mais uma mulher assassinada às mãos do agressor. Não quero continuar a saber de casos de abuso e de assédio, seja dentro ou fora do local de trabalho. Não quero continuar a deparar-me com penas vergonhosas para agressores e violadores. Não quero continuar a ouvir palavras hediondas vindas de altas patentes da justiça.

Por isso, é este a minha partilha neste dia 8 de Março, é esta a minha forma de expressão e revolta contra um sistema que tem falhado constantemente. Espero, espero muito que, um dia, este dia deixe de fazer sentido e que não seja preciso continuar a relembrar o que está mal. Até lá, é preciso e urgente continuar a debater estes temas, a espalhar a palavra, a educar as gerações vindouras. Naquilo que me diz respeito, cá continuarei a juntar a minha voz a todas e a todos aqueles que querem, apenas, um mundo mais justo.

1 comentário:

  1. Concordo contigo, mas infelizmente ainda existem muitas pessoas, muitas deles mulheres, que têm este dia como um dia só de mulheres, para ir a jantares do dia da mulher e festa para cima. Ainda há muita gente que não olha para este dia com o sentido real.

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