quinta-feira, 21 de março de 2019

Dia da Poesia [ou este amor infinito aos versos]


Escrevi o meu primeiro poema com sete anos, na mesa da cozinha da casa dos meus avós. Foi numa manhã de sábado, era Primavera. Agarrei no bloco com desenhos e escrevi uma quadra (que, infelizmente, depois perdi) com rimas emparelhadas. E foi aí que começou esta longa história de amor com os poemas.

Não tardou que me fosse apresentado Luís de Camões e Fernando Pessoa. Mesmo não entendendo quase nada (com doze anos somos ainda crianças), de certa forma sentia que aqueles poemas falavam sobre mim, que me eram familiares, tal e qual uma sensação de dejà vu. Mais tarde, por volta dos quinze (e do meu primeiro amor), conheci Florbela Espanca e aí pensei mesmo que eu própria poderia ter sido Florbela a escrever os sonetos. Pode parecer sobranceria da minha parte, mas não consigo explicar a forma como os seus poemas me tocavam, me faziam chorar e sentir cá dentro algo que não conseguia explicar. Muito à custa disso, por viver com um livro de sonetos debaixo do braço, fui olhada de lado e apelidada de "estranha", porque gostava de poemas e de escrever poemas quando todos os meus amigos adolescentes gostavam de outras coisas.

Escrevi muitos, muitos poemas durante a minha adolescência. Nesses versos depositei as minhas primeiras desilusões de amor, o meu amor não correspondido, a forma estranha como via o mundo e como o mundo chegava até mim, a estranheza que sentia no coração, o sentir em demasia tudo à flor da pele. Os poemas eram a minha forma de comunicar o esse sentir em demasia. Cheguei mesmo a escrever poemas por encomenda (nunca me hei-de esquecer de os meus amigos de turma me pedirem poemas para entregarem às namoradas e da sua desilusão por constatarem que as namoradas jamais acreditaram que eram eles que os tinham escrito!). Na minha mesinha de cabeceira, e um pouco por toda a casa, sempre houve livros de poesia e cadernos onde eu escrevia os meus próprios versos.

Entretanto, houve um interregno. Quando o meu avô partiu, a dor que senti foi tão grande que, durante meia dúzia de anos, não consegui escrever. Como se a porta da poesia tivesse sido fechada e a inspiração não surgisse de forma alguma. Até que, um dia, como que por magia, um poema voltou a surgir em mim. Ainda a medo, peguei no lápis e no caderno e deixei fluir. E chorei, chorei de alegria e de emoção. Afinal, a poesia não me tinha voltado as costas. Afinal, os versos ainda moravam dentro de mim.

Pessoa e os seus heterónimos, Florbela, Camões, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Vitorino Nemésio, Cesário Verde, Sophia de Mello Breyner, Ary, Teixeira de Pascoaes (meu conterrâneo) e tantos, tantos outros poetas que me inspiraram ao longo dos anos, com a sua genialidade, o seu sofrimento, as suas dores, os seus amores e desamores, o seu incoformismo, a sua visão futurista ou a sua nostalgia, a sua saudade, a sua sátira, as suas lutas interiores, as suas dúvidas e um único e comum amor: a poesia.

Talvez seja através dos meus poemas que melhor sei dizer quem sou. Nas entrelinhas de cada estrofe, nas rimas cruzadas ou emparelhadas, nos sonetos ou nos poemas sem rima, consigo despir todos os artefactos e pôr a nu a minha alma, o meu sentir. É por isso que, àquelas pessoas que me são mesmo especiais, ofereço poemas. Porque é o melhor que posso oferecer, um pedaço grande de mim, um bocadinho da minha alma, aquilo que de mais valioso tenho.

Hoje é o Dia Mundial da Poesia. Dizem que de poetas e loucos todos temos um pouco. E eu acredito. Acredito que a poesia está em cada um de nós, como o sangue que nos corre nas veias ou o coração que nos bate no peito. Acredito que poucos são os que lhe ficam indiferente. Porque a poesia tem esse dom, o de nos fazer olhar para dentro, o de escutar com o coração, o de nos encantar e arrebatar. Poesia é a beleza nua e crua das palavras. É o dizer aquilo que não se consegue dizer de outra forma. É o chorar e o rir, o amor e o desamor, a euforia e a tristeza. É uma forma de vida. Uma forma de vida que eu permiti que se manifestasse me mim.

[Em breve, trarei novidades boas, muito boas. Por enquanto, posso apenas dizer-vos que poemas e melodias sempre foram uma bonita combinação.]

1 comentário:

  1. Que giro, eu nunca tive jeito para os poemas confesso, mas deve ser um dom muito interessante.

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