Se tivesse que descrever este livro com uma só palavra seria: doçura. Não uma doçura límpida e serena, mas sim uma doçura real, aquela doçura simples mas efémera, como que uma espécie de ingenuidade que nos mantém reféns. Mas deixemos as minhas divagações de lado e passemos ao que realmente interessa. Este livro. Mais um livro maravilhoso do Senhor Murakami. Se eu vos disser que, há dois anos, li pela primeira vez Haruki Murakami e fiquei desiludida, talvez não acreditem. Mas é a verdade. Hoje, é um dos meus autores preferidos e a sua escrita inebria-me de uma forma quase surreal. Talvez sejam os tempos que mudam dentro de nós e nos fazem ver as coisas com outros olhos. E lá estou eu a divagar outra vez.
A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol fala-nos de Hajime e do seu percurso desde a infância até ao momento presente. Hajime que conhece Shimamoto ainda durante a infância, de quem se torna amigo inseparável, com quem passa tardes a ouvir música, naquele sentimento tão próprio dos anos de meninice. Mas o tempo passa e os seus caminhos acabam por se separar. Cada um segue a sua vida, mas sempre unidos por esse estranho sentimento, entre o amor e a amizade, que cultivaram na infância.
Dito assim, parece mais uma história normal. E talvez seja. Mas, para mim, é mais do que isso. Neste livro, como em outros do autor, podemos sentir a inevitabilidade da passagem do tempo e a impossibilidade de poder voltar atrás [e a angústia que isso provoca]. Podemos também sentir como um sentimento forte pode abalar toda a estabilidade, todas as certezas, tudo aquilo que julgamos seguro. E podemos sentir ainda como somos seres vulneráveis e irracionais perante a possibilidade de um sonho concretizado ou de um amor tornado, por fim, real.
Havia tanto mais para dizer sobre este livro. Mas prefiro deixar que descubram a magia a cada virar de página.
[Uma sugestão, coloquem como som de fundo a música South of the Border, West of the Sun, de Nat King Cole.]
Mais uma boa sugestão de leitura.
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