Lembro-me, como se fosse ontem, da primeira vez que a ouvi cantar. Eu não passava de uma miúda assustada e cheia de dúvidas num mundo novo mas, quando a ouvi, foi como se alguém me dissesse que, afinal, aquele novo mundo académico poderia ser um lugar bonito. No meio do emaranhado em que se encontrava a minha alma, encontrei no seu fado um bálsamo doce que aliviou as minhas dores e me fez sentir menos só.
Notei-lhe logo o olhar diferente, a alma em riste e o coração ao alto em cada verso. Adivinhei-lhe altos vôos, pois uma voz assim não poderia ficar confinada a quatro paredes nem a um público de meia dúzia de pessoas. Senti-lhe o amor ao fado em cada rima, em cada silêncio, em cada trinar da guitarra, como se fosse ela o próprio poema e o próprio poeta. Senti arrepios e vontade de chorar, por ter sido tocada dessa forma, por ver que alguém amava os versos tanto quanto eu.
Será sempre a Patrícia, a minha Patrícia, a colega de faculdade que eu admirava e escutava com atenção, a fadista do Porto que cantava com a capa traçada e um amor que não lhe cabia no peito. Será sempre a minha Patrícia, a veterana amiga, o colo, o abraço, a sabedoria e o sonho. Porque a Patrícia nunca duvidou desse sonho de fazer do fado o seu fado.
Por isso, é com uma felicidade e orgulho imensos que, tantos anos depois, a vejo planar os céus e encantar o mundo com a sua voz. Continuo a olhar para ela com a mesma admiração daquela miúda de dezoito anos que encontrou no seu fado alento para continuar. E acalento a secreta esperança de, um dia, ouvi-la cantar um dos meus poemas, como só ela sabe fazer.
[Acompanhem o trabalho da Patrícia aqui.]
Não conheço confesso, mas fiquei curiosa.
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