sexta-feira, 5 de abril de 2019

Flores [ou este amor de há tanto tempo]


Aprendi a gostar de flores com a minha avó Micas. As minhas memórias de infância mais antigas remontam a uma jarrinha de pé alto (chamavam-lhe solitário, creio!), na mesinha de cabeceira do quarto dos meus avós. Essa jarrinha tinha sempre flores. Sempre, independentemente de ser Primavera ou Inverno. A minha avó adorava flores. No nosso jardim, havia sempre roseiras, lírios, hortênsias, brincos-de-princesa, sardinheiras, jarros, alfazema, amores-perfeitos, malmequeres, violetas. E a minha avó era feliz só por se sentar na varanda a olhar para o jardim e contemplar as flores. Tinha-lhe amor genuíno, aquele amor pela terra e pela beleza que ela é capaz de nos dar. E eu aprendi a amar as flores como ela amava.

Nas tardes de Primavera, quando chegava da escola, gostava de ir ao jardim e colher duas ou três flores para lhe oferecer. Ela sorria e dizia (sempre) que era o presente mais bonito do mundo. Pedia-me para ir buscar a jarrinha ao quarto e colocava-as lá, dizendo que iria ter uma noite mais perfumada e um sono mais feliz.

Aprendi a gostar de flores com a minha avó Micas. Por isso, faço questão de ir coleccionando vasos e plantas na minha varanda e no meu jardim e de ter sempre uma jarra com flores no meu quarto e na cozinha. Porque as flores transmitem-me serenidade e alegria e fazem-me voltar ao tempo da minha doce infância em que a felicidade se resumia a apanhar flores para oferecer à minha avó.

1 comentário: