terça-feira, 21 de maio de 2019

LIVROS | A Carne - Rosa Montero


A vida é um pequeno espaço de luz entre duas nostalgias. A nostalgia do que ainda não vivemos e a do que já não poderemos viver.

É assim que começa A Carne, mais um livro de Rosa Montero que li em pouquíssimo tempo.

Soledad, uma mulher que acaba de completar 60 anos, envolve-se com um gigolô. Este é o mote para este livro, a dita história central. Mas, para mim, este livro é muito mais do que isso. É uma reflexão sobre a passagem do tempo, que pode ser tremendamente cruel e dolorosa; sobre a nostalgia e a saudade do que poderia ter sido; sobre as decisões e os momentos-chave que podem condicionar toda uma vida, mesmo que esta esteja ainda a começar.

Além disso, ao longo do livro são partilhadas algumas histórias relativas aos chamados "escritores malditos". E, confesso, foi destas histórias dentro da história aquilo de que mais gostei. Por isso, para terminar, deixo-vos com a definição de escritores malditos que é feita neste livro (e com a qual tantos de nós se identificam):

Sermos malditos é sabermos que o nosso discurso não tem eco, porque não há ouvidos que consigam entender-nos. Sermos malditos é não coincidirmos com o nosso tempo, com a nossa classe, com o que nos rodeia, com a nossa língua, com a cultura a que se supõe pertencermos. Ser maldito é desejarmos ser como os outros, mas não conseguirmos. E querer que nos amem, mas só causarmos medo, talvez riso. Ser maldito é não suportarmos a vida e, sobretudo, não nos suportarmos a nós próprios.

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