quarta-feira, 24 de abril de 2019

LIVROS | A máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mãe


Já li muitos, muitos livros. Não consigo contabilizá-los. Tenho um leque de livros a que chamo especiais, pois são os meus favoritos. E hoje, acabou de entrar mais um para essa grupeta. A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe [um dos meus escritores preferidos e autor de um (agora dois) dos meus livros preferidos - O filho de mil homens]. Andava a adiar a leitura deste livro. Sabia do que se tratava. E por abordar um tema que me diz tanto [a terceira idade] andava a adiar a sua leitura, como se já pressentisse o rol de emoções que iria provocar em mim. E confirmou-se.

Faltam-me as palavras para descrever este livro. Poderia usar termos como avassalador, poético, humano, verdadeiro, cru, atroz, belo, maravilhoso, angustiante, essencial-na-vida-literária-de-qualquer-bom-amante-de-livros. Mas todos estes adjectivos me parecem parcos e supérfluos para descrever aquilo que senti.

A máquina de fazer espanhóis é um livro que aborda a terceira idade de uma forma muito peculiar e verdadeira. Começa com uma perda, a perda do amor de toda uma vida, e com uma ida involuntária para o um lar da terceira idade da personagem central e também narrador, o Sr. Silva. E depois vamos assistindo a um emaranhado de emoções e vivências que vai sendo desfiado ao longo das páginas. Temas como a perda, a saudade, o arrependimento ou a ausência, são-nos apresentados de uma forma visceral e, ao mesmo tempo, terna, como só Valter Hugo Mãe sabe fazer. Mas aquilo que mais me comoveu, aquilo que mais me tocou, foi o facto de, mesmo na solidão da velhice, ser possível fazer da amizade um bem maior, que ajuda a passar os dias e a ganhar alento para viver os últimos anos. A amizade entre o Sr.Silva, o Sr.Pereira, o Sr.Anísio, o Sr.Cristiano e  Sr.Esteves-sem-metafísica foi algo que me tocou, que me enterneceu e que me fez chorar. Porque é possível ser-se menos sozinho na solidão e num lugar que não é a nossa casa mas que pode ser algo mais confortável quando se tem uma mão para agarrar.

Este livro acertou-me directamente no coração, bem no centro e bem fundo, como uma flecha. É dos livros mais bonitos que tive o privilégio de ler. Das histórias que mais me tocou e enterneceu e me fez reflectir. E fez-me, inevitavelmente, recordar o meu avô querido, que não pôde viver a sua terceira idade em pleno. Se tiverem oportunidade, leiam este livro. Mas, antes, preparem o coração, pois vai acertar-vos em cheio e nada mais será igual.

1 comentário: