quarta-feira, 1 de maio de 2019

LIVROS | Ensina-me a Voar Sobre os Telhados - João Tordo


Não gostamos de homens ou de mulheres. Gostamos de quem nos toca cá dentro.


Hoje trago-vos mais um livro de João Tordo, um dos meus escritores preferidos, como já o disse tantas vezes. Este Ensina-me a Voar Sobre os Telhados é uma reflexão profunda sobre como o nosso passado, a nossa história antes de sequer existirmos, pode [ou não] influenciar a nossa vida e o rumo que escolhemos tomar.

Após o suicídio de um colega de trabalho, um grupo de professores decide criar uma espécie de grupo de apoio com reuniões semanais para se ajudarem uns aos outros no processo de aceitação e de luto. No entanto, estas reuniões rapidamente tomam um carácter mais pessoal, onde cada um dos participantes vai como que exorcizando os seus fantasmas e o seu passado. Até ao dia em que aparece um novo participante: intrigante e com uma bagagem demasiado pesada. A partir daqui, o próprio narrador irá mergulhar no seu passado e nas suas sombras e perceber que, no fim de contas, não somos assim tão diferentes uns dos outros no que diz respeito a mágoas, dependências ou estados de loucura iminente.

Ensina-me a Voar sobre os Telhados é também um livro que fala sobre o poder redentor da amizade e da fraternidade, sobre como nos damos a conhecer a desconhecidos sempre que abrimos o coração, sobre como, por vezes, a vida foge ao nosso controlo e, quando damos por isso, já nos deixámos ir com a maré. Mas é também uma reflexão sobre a esperança que permanece, mesmo quando tudo parece desfeito, a luz pequena ao fundo do túnel, o acreditar que é possível voar, seja qual for e como for esse voo.

A frase com que inicio esta partilha foi aquele pensamento que ficou a ecoar na minha cabeça: não gostamos de homens ou mulheres, pessoas ricas ou pobres, de brancos ou negros, gostamos tão somente de quem nos toca cá dentro, de quem olha além do óbvio, de quem compreende e partilha das nossas inquietações e das nossas imperfeições, de quem não tem medo dos nossos fantasmas [por vezes tão assustadores].

E foi esta dinâmica subtil que mais me tocou, as pequenas emoções quase escondidas nos grandes diálogos. E é isso que me faz apaixonar perdidamente por certos livros, esse "além do óbvio", esse intrincado quase imperceptível que nos entra no coração sem pedir licença.

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